Philip Nitschke no TED: “a morte não é uma prerrogativa dos médicos, mas uma decisão individual de cada um”

Philipe Nitschke, da Exit International: “Nenhum de nós deveria poder impor suas opiniões e julgamentos sobre o direito de escolha e o discernimento do próprio paciente sobre o que deseja fazer consigo mesmo.”


“Em defesa do direito de encerrar a própria vida gostaria de dizer o seguinte: muitas pessoas afirmam que a vida é o presente mais valioso que recebemos. Só que um presente que você não pode recusar é na verdade um incômodo. Hoje é muito difícil recusar esse presente. Minha luta é por facilitar essa recusa para aqueles que desejarem fazê-lo.”

Essa é uma das frases de Philip Nitschke, um dos líderes do movimento mundial pelo direito à autodeterminação, à morte assistida e à eutanásia, nessa palestra, Why suicide drugs should be issued to the elderly (“Por que drogas letais deveriam ser permitidas aos idosos”) no TEDx realizado em Darwin, sua cidade natal, na Austrália, em agosto de 2016.

Abaixo, o vídeo. E aqui, algumas outras frases de Philip.

“Muitos dizem que o suicídio racional (a decisão refletida e bem informada sobre deixar de viver) não existe, porque alguém que escolhe morrer teria necessariamente algum problema mental ou emocional. É uma idéia que tenta sabotar o direito à autodeterminação do indivíduo.”

“Ao mesmo tempo, esse modelo do “privilégio médico” (que tira da pessoa o direito de decidir sobre si mesma) se dá o direito de enclausurar a pessoa numa instituição, contra a sua vontade, para sofrer uma vida indesejada até o fim. Com a justificativa de que essa é uma medida para proteger a pessoa dela mesma.”

“Como resultado, estamos relegando as pessoas que querem deixar a viver a terem de fazer isso de modo desesperado, recorrendo a métodos inseguros, em eventos trágicos. O método mais comum de suicídio hoje é o enforcamento. Uma morte horrível.”

“Acabar com a própria vida é um direito humano fundamental.”

“A legislação atual que regula a morte assistida é insuficiente. E se você não estiver doente? Ou não estiver suficientemente doente? E se você tiver uma razão não-médica para querer deixar de viver? E se você não estiver a seis meses de uma provável morte natural?”

“No início da minha jornada, ainda atuando como médico, vivi a situação de ter pessoas pedindo a minha permissão para morrer. E se você estiver sofrendo e o médico não refletir, na sua avaliação, aquilo que você está sentindo, ou não concordar com a sua decisão de ir embora? Ele não deveria ter esse direito. A decisão é sua.”

“Os profissionais, as autoridades, a sociedade não deveriam impor suas opiniões e julgamentos sobre o direito de escolha e o discernimento do próprio paciente sobre o que deseja fazer consigo mesmo.”

“Tive uma paciente que não estava doente e queria morrer. Disse a ela: por que você não viaja, vai conhecer lugares diferentes, encontrar gente nova? E ela me respondeu: ‘e por que você não cuida da sua própria vida?’ Foi aí que mudei completamente minha visão sobre a quem pertence a decisão de seguir vivendo ou não.”

“Como sociedade, nós não suportamos ver uma pessoa não valorizar algo que nós valorizamos tanto – a vida. Nós não respeitamos essa opinião diferente. Por isso o suicídio nos ofende tanto. Nós estamos errados em forçar nossa visão sobre os demais.”

“Todas as pessoas com mais de 70 anos que desejassem deveriam poder ter um frasco com 15 gramas de nembutal estocado com segurança em casa. Para usarem no momento em que considerarem que não querem mais viver.”

“Imaginar que legalizar o acesso a drogas como nembutal significaria causar uma epidemia de suicídios é tomar como premissa que todos nós só estamos vivos nesse momento porque não temos acesso a uma droga letal. Uma ideia que não faz sentido.”

“Suicídio não é crime em nenhum lugar do mundo. Mas auxiliar alguém a morrer de modo pacífico, humano, com dignidade, pode render prisão perpétua. Esse é um paradoxo irracional.”

“Quero ter o direito de fazer a escolha mais fundamental da minha vida – o momento e o modo como vou morrer. O indivíduo deve ter esse controle sobre sua própria existência. Isso não vai prejudicar as pessoas. As pessoas prejudicadas são aquelas, como minha mãe, que não teve essa escolha, que não teve esse direito assegurado. E foi obrigada a ter uma morte horrível, algo que ela não queria.”






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A morte voluntária assistida (MVA) é um direito civil ainda indisponível no Brasil.

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