A.C. Grayling: “É um ato de crueldade, um ato inumano, negar a quem está sofrendo o direito de escapar a esse sofrimento”

A.C. Grayling: “Um direito humano fundamental é não ser tratado de modo cruel e inumano. Negar a morte assistida é negar esse direito ao indivíduo que está sofrendo”

Neste vídeo, o filósofo britânico A.C. Grayling, em sua explanação na Oxford Union Society, clube de debates da Universidade de Oxford, faz a defesa do direito do indivíduo à autodeterminação. Abaixo, alguns de seus argumentos:


“A autonomia do indivíduo passa por poder decidir quando e como morrer. Isso inclui pedir ajuda quando não ele ou ela pode fazê-lo por si só. Trata-se de um direito individual: o direito de escapar a uma situação de sofrimento.

“A lei britânica defende os direitos humanos. Vou tomar três pilares desse princípio.

“Um, nós temos direito à vida.

“Dois, temos direito a não sermos tratado de modo cruel e inumano.

“Três, temos direito à privacidade, a tomar decisão relativas à nossa própria vida.

“O suicídio só foi descriminalizado no Reino Unido em 1961. (Até então, se o indivíduo falhasse em sua tentativa, ele seria processado.) Ainda em 2022, no entanto, se alguém se dispuser a acompanhar ou ajudar o suicida, essa pessoa poderá ser condenada. Isso significa que o indivíduo tem o direito de encerrar sua própria vida, mas se ele não puder fazê-lo sozinho, ninguém tem o direito de ajudá-lo.

“Pensemos no direito à vida. Se eu lhe prender numa jaula e apenas lhe alimentar, de modo a lhe manter vivo em cativeiro, eu estou respeitando seu direito à vida? Certamente não. O direito à vida implica uma qualidade mínima de vida. O direito à vida se refere a uma vida digna de ser vivida. Então a pessoa deveria poder encerrar sua vida sempre que julgasse que sua vida deixou de ser digna. Assim como deveria poder ser ajudada, como um ato de compaixão, sempre que não puder fazê-lo sozinha.

“O direito à vida implica que a única pessoa capaz de decidir sobre a vida é quem está vivendo essa vida. Temos que respeitar o julgamento do indivíduo. E é um ato de crueldade, um ato inumano, não ajudar essa pessoa em seu intento e abandoná-la ao sofrimento.

“O direito à privacidade engloba o direito à autodeterminação. Argumentar que a vida não pertence ao indivíduo, porque ela teria sido dada a ele por uma entidade transcendental (uma visão que vem da concepção metafísica e da moralidade de pessoas que viveram há milhares de anos) é desrespeitar o direito às decisões privadas do indivíduo”.




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A morte voluntária assistida (MVA) é um direito civil ainda indisponível no Brasil.

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