Peter Goodwin: quando um dos maiores defensores da morte assistida precisa decidir sobre a própria vida

Peter Goodwin: “uma de minhas noras, que é muito religiosa, me disse: ‘Peter, eu quero estar com você quando você morrer. Eu não aprovo o que você está fazendo, mas eu te amo'”

Peter Goodwin teve atuação fundamental, como médico, na construção do Dying With Dignity Act (DWDA), lei pioneira aprovada no estado do Oregon, nos Estados Unidos, em 1997.

Nesses vídeos, publicados pela Compassion and Choices, Peter, diagnosticado com doença terminal, comenta como é estar no fim da vida e ter que fazer (e poder fazer) a opção pela morte assistida.

“Meus filhos lamentam minha decisão. Mas eles a apoiam. Minha filha provavelmente vai se emocionar primeiro – alguns segundos antes de mim. Uma de minhas noras, que é muito religiosa, me disse: ‘Peter, eu quero estar com você quando você morrer. Eu não aprovo o que você está fazendo, mas eu te amo'”

“Meu irmão, minha cunhada e minha sobrinha têm vindo me visitar. A gente chora muito junto. É difícil.”



“Eu tinha que fazer alguma coisa para ajudar os pacientes terminais. O novo presidente da Associação Médica do Oregon me disse: ‘Peter, não perca seu tempo. Você nunca mudará a mentalidade dos nossos médicos’. Eu continuei defendendo que o paciente tinha que estar no controle da sua situação, e não os médicos. Em determinado momento, esse mesmo presidente declarou: ‘Deixemos que os cidadãos do Oregon decidam sobre essa questão’. Eu fiquei maravilhado. E acho que posso ter contribuído para essa mudança de posição. A Associação Médica do Oregon se manteve neutra ao longo de toda a nossa campanha pela aprovação da lei que regulou a morte assistida no estado”.

“Agora eu sou paciente de uma doença terminal. Não há cura para ela. Eu não viverei mais de seis meses. Então lancei mão do Dying With Dignity Act e já tenho comigo a medicação que preciso para encerrar minha vida. É um momento de tristeza. Mas eu sempre soube que usaria essa lei, caso precisasse.”


“Como tantos médicos, eu era um sabe-tudo arrogante. Nós fomos treinados para isso. Para negar que havia coisas para as quais não tínhamos resposta. Com o tempo, comecei a perceber que com frequência eu era injusto e antipático com os pacientes.”

“Em 1972, um paciente veio até mim, com sua mulher. Ele me trouxe uma pasta cheia de exames e me disse: ‘Eu tenho esse câncer por 10 anos. E eu quero que você me ajude a morrer’. Ele estava acabado. Ele sofria com dores terríveis há oito anos, sem responder a nenhum tratamento. Ele estava com muito medo de seus filhos perderem tudo. Finalmente, eu decidi ajudá-lo. Eu prescrevi Nembutal para ele. Não havia quem eu pudesse consultar. Não havia referência disso nos livros. Eu me senti sozinho. Eu fiquei com muito medo das consequências. Para mim e para a minha família. Fiquei com medo de perder minha licença e minha carreira. Eu me perguntava: ‘O que eu fiz?’ Agi com o coração e não com a cabeça. Aprendi ali que havia pessoas com uma necessidade desesperada de morrer.”

“Outras experiências me mostraram que a medicina era muito inapta para tratar os pacientes terminais. A partir de 1990, comecei a trabalhar pela construção e aprovação do Dying With Dignity Act. Essa foi a conquista mais gratificante da minha carreira. Depois dessa lei, que regulou a morte assistida, os cuidados paliativos e os serviços das clínicas para idosos também melhoraram muito.”

“Esteja feliz consigo mesmo, tenha orgulho das suas conquistas. Tenho uma doença neurológica progressiva e incurável. Ela vai me matar. Minhas mãos estão ridiculamente inúteis – essas mãos já ajudaram muita gente. A expectativa de vida para essa doença é de 6 a 8 anos. Eu já a tenho há 6 anos. Ainda consigo caminhar. Mas já não tenho equilíbrio. Tenho caído muito. Quando eu não conseguir mais andar, esse será o momento em que encerrarei minha vida.”

“Tenha bons amigos, ame. Amor significa compromisso, compreensão, aceitação em relação a outra pessoa. Terei minha família ao redor do meu leito de morte. Tomarei a medicação e espero morrer rapidamente. Essa é a decisão mais difícil que tomarei em minha vida.”




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