Rob Jonquiere, diretor da WFRTDS: “As pessoas deveriam poder devolver o ‘presente que receberam de Deus'”

O médico Rob Jonquiere presidiu por muitos anos a NVVE, principal organização holandesa de apoio ao direito de morrer com dignidade, e é diretor executivo da World Federation Right to Die Societies

Rob Jonquiere, ex-clínico geral, foi CEO da NVVE, principal organização holandesa em defesa do direito à morte digna. Desde janeiro de 2009, Rob atua como Diretor Executivo da World Federation Right to Die Societies. Em março de 2015, ele deu a seguinte entrevista ao New Zealand Herald:

Numa das palestras em que defende o direito do paciente de decidir o momento e o modo da sua própria morte, nos estágios finais de uma doença incurável e dolorosa, o médico holandês Rob Jonquiere, arquiteto da legislação de eutanásia voluntária na Holanda, respondeu a uma indagação dizendo que se a vida era “um presente sagrado de Deus”, então ela, como qualquer presente que se recebe, “deveria poder ser gentilmente devolvida, com agradecimentos”.

“A morte assistida deve completar o conjunto de cuidados paliativos oferecidos ao paciente no fim da vida”, diz Rob.

Rob, que já foi acusado de ser um “assassino” por ajudar os pacientes a morrer a seu pedido, pondera que as pessoas fazem escolhas ao longo de suas vidas adultas – com quem se casar, onde viver e trabalhar, como criar filhos, etc.

“Por que não podemos escolher morrer quando a alternativa é uma morte em vida?”

Em uma entrevista recente, Rob disse que os defensores da morte assistida estavam ganhando força e que a eutanásia voluntária (legal em seu país há mais de uma década) e os cuidados paliativos não eram mutuamente exclusivos.

“Na Holanda, os cuidados paliativos estão integrados ao sistema de saúde.”

Segundo Rob, cerca de 70% das pessoas que solicitam a eutanásia voluntária na Holanda nunca a realizam – seus pedidos são negados ou elas morrem naturalmente.

“Sabendo que há a garantia da morte assistida para morrer de maneira digna e humana, no momento em que o sofrimento se tornar insuportável, os pacientes acabam suportando mais sofrimento do que se não tivessem essa alternativa”.

A Suprema Corte do Canadá decidiu por unanimidade que os médicos podem fornecer medicamentos para adultos competentes, com uma ‘condição médica grave e irremediável’, finalizarem suas vidas.

A decisão canadense derrubou as leis que proibiam os médicos de participar do fim da vida de um paciente. O tribunal disse que as atuais proibições violam os direitos à vida, liberdade e segurança protegidos pela Carta de Direitos e Liberdades do Canadá.

Pauline Tangiora, uma das pessoas que assistiram à apresentação de Rob, quando abordada posteriormente, lembrou do falecimento de sua cunhada holandesa em um hospital da Holanda como um exemplo de “morte com dignidade”.

“É lindo, a família estava com ela, eles estavam rindo, ela conseguiu se despedir, então deu um aceno para o médico liberar a injeção e foi dormir – ela estava com câncer na coluna.”


Rob Jonquiere também foi entrevistado por Douglas Scott Jacobson, em 2019, no site Canadian Atheist. Abaixo, um trecho dessa entrevista, reproduzida em 2022 na plataforma jornalística In-Site Publishing:

O que distingue termos como direito de morrer, morrer com dignidade, eutanásia e assistência médica ao morrer, e assim por diante?

Esses diferentes termos são usados ​​em diferentes países e, infelizmente, as definições nem sempre são as mesmas. A nossa luta, no entanto, é pelo direito de tomar decisões sobre si mesmo ao final da vida. O que é importante para nós é o poder de escolha do indivíduo, sua autodeterminação, sua autonomia.

Cada vez mais tendemos a deixar o uso do “direito de morrer”, já que todo indivíduo, é claro, tem o direito de morrer – todos nós morremos! O correto seria dizer: “direito de morrer de forma digna e na hora e local de sua escolha” (mas isso é muito longo para usar).

Uma vez que na maioria das vezes esse modo de morrer é alcançado com a ajuda de um médico, hoje usamos com mais frequência o termo “morte medicamente assistida” (ver Canadá, onde se fala de MaID).

Ou omitimos o M (edicamente), se a assistência não for prestada por um médico – como na Suíça, onde legalmente um leigo pode (sob condições estritas) ajudar alguém em seu suicídio.

Quem são os adversários daqueles que trabalham pelo direito de morrer? Quais são seus argumentos?

Geralmente a oposição vem do lado religioso: protestantes ortodoxos na Holanda e o catolicismo em todo o mundo. Claro que hoje em dia encontramos oposição de grupos de cuidados paliativos, mas é importante notar que a ideia de cuidados paliativos está bastante baseada na caridade cristã e no samaritanismo.

Os argumentos que ouvimos são principalmente que toda vida vale a pena ser vivida – ignorando que uma pessoa possa considerar sua vida como “desumana” e, portanto, deseje que ela termine logo, em vez de continuar vivendo numa situação de sofrimento.




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A morte voluntária assistida, tanto na versão autoadministrada quanto na versão administrada por terceiros, constitui um procedimento ilegal hoje no Brasil

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